Não me vou alongar aqui sobre o fenómeno do gravel, mas há um certo e óbvio fascínio em poder dar a rolar em estradões e similares sem destruir uma bike de estrada nem estar condicionado às velocidades e posições de BTT. Sem carros, no meio do campo. Mais próximo do ciclo-cross do que qualquer coisa. Epá, sim.
Apesar de esta experiência me atrair, não é momento para mais uma bike e andei à procura de soluções que não obrigassem a grandes alterações e pudessem encaixar no meu momento atual – a recuperar de uma operação e a caminho do Basajaun. Primeiro porque nunca tinha feito um multi-dias fora de estrada (exceto o Madrid-Lisboa 2017, este em estafeta de 3) e que certamente oferece muito mais porrada em regime de autonomia. Depois, sobretudo, porque o ombro estava uma miséria, ainda com uma recuperação muito verde como pude constatar 15 dias antes no Ironman Vitoria.
A maior parte das soluções que encontrei tinham drop bar, sim senhora, mas obrigavam a comprar controlos novos de travão e mudanças. Hummm… o que há mais para aí?
E foi por fugir aos caminhos mainstream que encontrei a Surly Corner Bar.
O ovo de Colombo está precisamente no posicionamento dos segmentos de barra, que acabam por deixar uns cornitos com os 22,2 mm que são uma medida universal para controlos de MTB. Ou seja, permitem reutilizar os comandos, neste caso, com alguns compromissos que já vamos ver.
Está bem pensado, vem em 3 tamanhos (larguras): 46, 50 e 54 cm e acomoda sem esforço um saco de guiador – o que o torna ideal para bikepacking. Pesadota, em CrMo, e tem um drop de 95,2 mm e um flare de 41,4º.
Vi os vídeos, li as reviews, e pus-me a imaginar a barbaridade que poderia estar a fazer à minha bela Lux. O ombro disse-me para borrifar e seguir jogo.
A inovação levou ao que acabou por ser este autêntico OVNI e ditou também que estivesse esgotado em todo o lado. E “todo o lado” quer dizer também nos EUA.
Depois de correr mais de 10 lojas/distribuidores a chamadas telefónicas (os sites da LBS são o que são), acabei por insistir e encontrar a Topanga Creek Output, perto de LA.
Liguei e quando pedi para enviarem para PT ou para uma morada nos EUA, disseram-me que se estivessem dispostos a isso já tinham vendido 100 e eu não seria certamente o primeiro da lista. Massacrei-os para reservarem o que tinham, ia ter uma prova especial, lá se montou o esquema com a preciosa ajuda do meu amigo Nelson Gama que vive por aquelas bandas e fez o enorme favor de ir pessoalmente à loja.
Assim que entrou e disse que era de Portugal, disseram-lhe “o seu amigo deve mesmo querer muito isto” 🙂
A montagem da barra em si foi simples:
Já o travão traseiro teve que levar uma mangueira um pouco maior porque ficava mesmo no limite nesta nova posição. Devido à pressão de tempo e o episódio a roçar o inenarrável com os travões, ficou mesmo muito pouco espaço de manobra para a arte que faltava.
Ainda assim, no fim de contas, não ficou nada mal, mesmo!
A posição base para as mãos é, no meu gosto pessoal, fantástica. Punho a ~45º, mais confortável tanto que a posição nos hoods em estrada como que a posição de flat bar. Poder juntar a estabilidade a descer em terrenos mais agressivos com muita pedra, as opções de pega com ângulos muito diferentes e o poder a cada momento entrar numa posição de tuck e rolar com as ganas todas… wow!
Mudou a vida da minha Lux, que passou a ser, como a batizou o João Manuel Pinto, a minha Monster Gravel 🙂
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