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Challenge Lisboa 2019

Novo regresso à prova onde me estreei no triatlo em 2016 e que tenho mantido no calendário. À quarta foi de vez. Mais ou menos… 🙂

Red Rocket racked

Um nascer do sol espectacular – ex-libris – esperava os atletas na T1.

Aquele amanhecer (TM)

Assim que cheguei à transição enchi o reservatório de água – um XLab entre os extensores. Num segundo olhar, o reservatório rachado escorria água sobre o pneu, sem parar.

Dei um tempo e concentrei-me no resto das coisas mas depois, com a poça a aumentar, tive que me render às evidências: hora de improviso, tirar a caixa de ferramentas e acessórios em formato de bidon do suporte traseiro e libertar esse espaço para levar a água que deixei de poder levar à frente.

Entre o que ficou para trás, ainda tive clarividência para pensar: “nunca furaste em prova, mas não vá o diabo tecê-las…”, venha a fita de electricista e vai uma latinha de reparador Vittoria colada ao espigão. E foi.

A natação correu bem, muito fruto da regularidade com que fiz aulas durante o ano, com foco na técnica, e de muito levar na cabeça (obrigado Joana!). A alongar mais a braçada, calmo e sem puxar demasiado, fui fazendo o caminho e quando saí da rampa e até tive que olhar duas vezes para os 36 minutos que o relógio marcava! Realmente não vale a pena lutar com a água se o mínimo de técnica não está lá.

https://www.strava.com/activities/2378557178

Um hello ao Tiago Costa, que se trocava na cadeira da frente, e saída na bike num percurso já bastante familiar. Primeira volta com início rápido mas a entrar rapidamente em ritmo de cruzeiro para não provocar o joelho demasiado cedo.

First lap done

No fim da primeira volta percebi que levava pouco ar no pneu traseiro e parei na tenda para subir uns 10 PSIs. Não sabia, mas havia de lá voltar.

Início da segunda volta mais rápido para compensar a paragem, subida para a via rápida e foquei-me em entrar no ritmo.

Uns 5K dentro da volta seguia em coluna, a ultrapassar, e numa zona que normalmente não é mais que uma plantação de bidons, a última coisa que vi foi um triângulo de sinalização a ondular ao vento já com a base um palmo dentro da estrada…

BAAAMMM!!

No preciso momento em que ia a passar, o sinal flecte o suficiente para lhe acertar na ponta e, manobra de instinto para não ir ao alcatrão, colocar peso na roda da frente… com aterragem directa na verdadeira cratera em que se tornou o alcatrão junto à junta de expansão que o sinal pretendia sinalizar.

Aro no chão, directo, e eu a ver a prova por um canudo.

Ainda com a adrenalina de “por um danoninho” não me ter esbardalhado forte, saltei da bicicleta e avaliei as minhas hipóteses enquanto dava voltas à fita de electricista que envolvia o spray: estava quase a meio caminho mas sem suporte em Sta. Iria; apoio móvel que eu soubesse era nulo… ou reparava isto, ou voltava.

Spray Vittoria para dentro do tubular, enchia e esvaziava logo. Zero cortes à vista, não saía nada que se visse, mais spray, nada. Palavrões. Também nada. Atirei com a lata de raiva (estúpido!), ressaltou e lá foi ela. Quando percebi que não podia ir buscá-la – como obviamente tinha que ter ido – ainda dei mais uns amassos no rail.

Desliguei finalmente o modo Grunho, e pensei: “Está escrito: não treinaste nada, joelho a apitar, uma natação acima das expectativas… não mexe mais. Está bom para treino, arrumas a trouxa e fechas a loja mais cedo”. Se havia contexto em que fazia (algum) sentido não terminar uma prova, era este.

Nisto, pára uma mota da organização com uma senhora que me pergunta se vou desistir. Obviamente a minha preocupação não era saltar para essa conclusão, queria saber que opções tinha, uma solução.

Confirmei que não havia assistência em Sta. Iria e que o único sítio era no início da volta. Não deu para esclarecer muito mais porque me atirou logo um “isso nem vale a pena pensar porque tem o cut-off e não vai dar”, “mas porque é que não vai dar?? não há outra solução! posso tentar, não?”, “não, há o cut-off e não vai correr isto para trás, não dá”

“Não vou!?!!”

Foi com isto que nos despedimos em termos pouco amigáveis e desatei a correr por ali fora de volta ao início, que pelas minhas contas estava a uns 5K.

Os pés sofriam, o joelho calado a adrenalina e entre esgares ainda me ri com este novo segmento de corrida em sapatos de ciclismo de estrada (já agora, recomendo vivamente cleats Shimano SPD, dão 15-0 nos Look Keo).

Ainda me cruzei com umas caras conhecidas, ouvi algumas palavras de apoio, devolvi uns “bora lá!!!” e ainda tentei na descida do acesso à via rápida (agora no sentido contrário) rolar um bocadinho com o tubular vazio mas era impossível… só mesmo para destruir o aro.

Corrida, trote, corrida e, por cima da relva na rotunda, lembrei-me de ver um vídeo há uns anos de um pro que aqui nesta mesma prova fez o caminho para trás a correr, coisa que não é nada comum a esse nível e que por isso teve destaque na altura e me chamou a atenção. Lembro-me de pensar: “obviamente era isto que faria”. E era o que estava a fazer.

Avenida D. João II que nunca mais terminava e, finalmente chegado à tenda azul da Bikefix, avisaram-me que não tinham rodas para trocar, na melhor das hipóteses só na wheel zone. “Porreiro. Onde é que isso fica? É descer?” E lá fui eu.

Só que ao chegar à placa que dizia “wheel zone” apercebi-me da triste realidade dos factos… é feita a pensar nos federados que lá entregam rodas para trocar durante a prova (e.g. lenticulares)…

Um à parte… na maioria das provas de ciclismo que custam 1/4 do valor de entrada ou menos há suporte neutro de uma marca qualquer. Passou-me pela cabeça nesse momento o preço que paguei e larguei uns impropérios… fiquei apeado por má gestão do percurso pela organização, fiz a minha parte e a solução é: vai para casa. Not right.

Mas ainda não queria ir. Subi para a tenda de novo e contei com a paciência interminável do duo incrível que lá estava, dividida entre mim e outro atleta. Tentámos de tudo, Tufo Extreme às carradas, arames para desentupir a válvula, desenroscar o extensor da válvula, mais arames, mais líquido, encher, não retém o ar, tentar de novo… os minutos iam passando e lembrei-me que tinha colocado o pneu há pouco tempo, já agora com péssimo artesanato da minha parte: “vamos lá arrancar o tubular para trabalhar melhor” e, já com a válvula para fora da circunferência lá insistimos.

A superfície do pneu estava limpa, o líquido não saía por nenhum lado que se visse e tornou-se óbvio que era um mega snake bite interno a babar para dentro do casing do tubular, portanto a roçar o impossível de arranjar.

Ao fim de 25 minutos parei o Garmin em definitivo. Dei um grande obrigado pelo esforço mas já era demasiado esticado. Fizemos o possível, há que saber quando é demais e francamente já havia uma compreensível frustração de quem deu tudo para que voltasse à estrada e não havia meio.

https://www.strava.com/activities/2378557229

Peguei na bike e, ao descer de novo a rampa a pé, já junto da curva, ouvi uma assobiadela. E uma segunda. Olhei à volta e do outro lado da estrada uma cara conhecida fazia-me sinal a apontar para um saco… acendeu-se uma luz cá dentro… ouviu a conversa toda e foi buscar uma roda ao carro! Novo safanão do destino e lá vai ele rua acima!!!

Troca de roda (havia de recolher a minha malograda no fim), ajuste nos travões (que o aro tinha uma largura diferente), ar e lá vai ele a rasgar alcatrão com a adrenalina no máximo!!

Na prática reiniciei a 2ª volta e fi-la (e à 3ª) mais com o coração do que com a cabeça. Custou arrancar mas dava-me um gozo tremendo estar outra vez a rolar depois de ter coberto aquele caminho a correr no sentido inverso.

Ao finalizar a 3ª volta, na passagem por baixo da ponte, já não via ninguém. Ninguém. Fiz a rotunda e, no acesso à última volta, tinha o cone já a meio caminho e gritam-me que a transição é em frente. Grito de volta que estou a começar a última volta, começam a argumentar e não parei para explicar – estava dentro do cut-off e estava-me a custar a pele.

Avenida D. João II fora na talega pela última vez e, a entrar no acesso à via rápida, uma mota da polícia que ia em sentido contrário a fechar o segmento (pensavam eles) deu a volta e veio atrás de mim do lado contrário do separador.

Não sabia se me ria ou os mandava a outra parte quando me gritaram que estava a decorrer uma prova e que não podia estar ali… apontei só para o dorsal e levei um par de minutos a convencê-los, sempre em andamento (eu junto ao separador e eles em sentido contrário, do outro lado), que era eu o último, e que se me deram como DNF enganaram-se.

“Meus caros, já fiz isto até aqui a correr hoje… é bom que o timing mat estivesse ainda em Sta. Iria para controlar a volta, não o deixem desmontar!”

Fui bastante persuasivo, foram impecáveis dadas as circunstâncias – a responsabilidade não era deles polícias mas sim da organização – e lá aceleraram de volta a Santa Iria onde, realmente, ainda me esperava o controlo de tempos.

O pessoal que lá estava devia ter ouvido partes da história em telefone avariado e, meio confusos meio divertidos, lá me incentivaram enquanto metia o prato grande e carreto pequeno rumo à última descida grande do dia.

Fim de volta na velocidade que consegui meter mas aqui já não havia brincadeiras possíveis… cada vez que me levantava para umas pedaladas mais fundas as coxas trancavam e caía no selim. No miracles.

Fechei a volta e entrei na transição todo torto, mas muito feliz por fazer o cut-off.

https://www.strava.com/activities/2378560267

Último a entrar na corrida, 1 volta de desvantagem no início da meia-maratona e passei a ter dois objetivos:

1) um irracional “terminas no matter what“, porque apesar de ter planeado não levar a prova até ao fim caso o joelho piorasse e estragar as próximas provas, o esforço que fiz(emos) para acabar a bike merecia que terminasse e

2) já agora, que não seja em último… mas, se for, que seja o primeiro dos gajos que furaram feio!

Depois de arrancar a mancar, encontrei a ginga certa e fiz as duas primeiras voltas no ritmo possível. A partir daí não teve grande história, foi mesmo penar, ver caras conhecidas, trocar incentivos e, a custo, ainda passei uma meia dúzia antes de cruzar finalmente a meta em 7h 13m.

https://www.strava.com/activities/2378560257

Tirando o tempo que perdi directamente com o furo, as paragens, o regresso a correr, assistência, voltar a fazer a volta até onde ia, tudo somado, o meu teste que vinha fazer, apontava para umas 5h 45m. Não é um bom tempo, mas o que levei em experiência e ganas tornou este numa das provas que mais bem me soube. Esta valeu!

Um dia talvez tenha um DNF. Este não foi o dia.

Last but not least, aqui fica mais um obrigado às máquinas que ajudaram a tornar isto possível – valeu Bikefix!!

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