Nem todas as aventuras começam no Facebook Messenger.
Dia 14 de setembro de 2018, uma notificação dispara: “Já fizeste a Estrada Nacional 2 de bike? Desde a nossa aventura no Chase the Sun que a tenho em mente mas ainda não se concretizou porque não arranjei ninguém com vontade real de o fazer.”
A N2… a N2.
“Concebida como ligação entre Chaves e Faro num percurso vertiginoso pela espinha dorsal do país sendo a sua EN mais extensa, a única que o atravessa de lés a lés, e a maior da Europa.”
Já estava em gestação há bastante tempo na bucket-list e agora tinha a oportunidade de se tornar realidade em resposta ao desafio do João Romão… tinha chegado a hora!
Não era a altura perfeita, mas quase nunca é. Porque sim?? Porque não?! Há já algum tempo que a resposta cai mais na segunda opção. Não estava tão recuperado quanto queria do Norseman mas não havia de ser a grande ritmo e ainda tinha algum tempo para me preparar. Atravessei-me logo nessa conversa e… vamos a isto.
Apontámos para o feriado de 1 de Novembro para aproveitar a ponte e chegámos a acordo para uma duração de 3 dias devido a compromissos de vária ordem. Decidimos então uma abordagem Norte, Centro e Sul:
O passo seguinte foi decidir como chegar à linha de partida. Considerámos carro alugado, boleia, até turbo-hélice! Levar tudo para cima e desfazer-nos de tudo o que não é essencial não seria tarefa fácil, ainda mais com um de nós a partir do Algarve e outro de Lisboa. Tudo pesado, e já tendo em conta o feriado de dia 1 de Novembro e a greve da CP, acabámos por decidir pela Rodonorte.
Nas semanas seguintes tratámos da logística dos equipamentos, para a qual aproveitei alguma da experiência ganha na travessia da N4.
Ficam desde já as lessons learned: faltaram sapatos/chinelos + calções/calças “à civil”, Voltaren, pilhas para extra luz traseira e forma de ligar x2 mini USB. E continuo com os cleats enguiçados… desta vez trouxe capas para andar para os Shimano… mas tinha uns Look! Outras otimizações? Claro… em bikepacking qualquer espaço é premium, por isso tanto o boião de chamois creme como a garrafa com comprimidos de cafeína podem ser muito mais reduzidos face às utilizações previstas.
Chegámos ao esperado dia 31 de Outubro e dirigimo-nos ao ponto de partida, na Gare do Oriente. Depois de um almoço rápido lá arrancámos e correu bem, com boa vontade por parte do motorista mas que não chegava a todas… eram as nossas meninas e tinham que chegar impecáveis para o arraial de porrada que se avizinhava.
Assim, em todas as paragens em que se abriam as portas do porão de carga do lado esquerdo, lá descíamos para acompanhar e “ajudar” os restantes passageiros nas cargas e descargas. Por incrível que pareça tive que explicar acaloradamente a um freguês porque é que não podia pôr uma mala enorme e pesada em cima do saco com as rodas. Parecia que os kilómetros quadrados de espaço ao lado não chegavam… mas chegaram.
Ah horas foram acumulando, e depois de uma grande sesta as terras iam passando… Coimbra, Viseu, Vila Real, Vidago. Chaves. Chaves!!! Bora!
A pé, com os sacos às costas até ao Forte de S. Francisco, passando pela feira medieval que decorria.
Um belo jantar regional fechou a noite e depois dos últimos preparativos carregámos pela última vez as baterias antes de arrancar.
Depois de um pequeno almoço robusto, o saco da bike ficou na recepção e iria ser levantado pelo impecável Carlos Daniel, que conheci no Grupo de Boleias Chaves-Lisboa e fez o favor de a devolver em Lisboa uns dias mais tarde (mais uma vez obrigado!).
Depois da foto da praxe, navegámos até ao ponto de partida, não sem antes passar pela emblemátics ponte…
… e pelos Bombeiros para o simbólico carimbo no Passaporte.
E daquele ponto nortíssimo arrancavam um Alentejano e um Algarvio numa volta de 3 dias algo improvável nesta altura do ano.
Partimos em modo rolante para aquecer e, tendo em conta que o joelho começou a apitar aos 20K, deu logo para perceber que as próximas horas iam ser um lindo serviço… e foram.
Seguir o traçado na N2 foi globalmente fácil, embora a sinalização teimasse em não aparecer em alguns pontos. Fomos passando diversas localidades numa sucessão de curvas e contra-curvas, muitas vezes com mudanças acentuadas de nível e sempre com o testemunho à monumental tenacidade nortenha que, vencendo montes e montanhas, lá instala os socalcos e cria um cenário tão útil quanto deslumbrante.
Lindíssima a descida até à Régua, com passagem na ponte que me trouxe imagens do Douro Granfondo.
Aqui foi altura de por à prova o material numa subida penosa até Lamego.
Não raras vezes pensei em parar, o corpo mandava ter juízo, mas já me tinha comprometido e em boa verdade não é necessariamente a melhor opção. Estava a quente, mudava a posição e lá ia “espremendo” mais um bocadinho.
Tinha esgotado o meu léxico de asneiras (que, atenção, é relativamente vasto!) quando finalmente o piso nivelou e, após uma falsa paragem (não tinha bifanas!), aterrámos no café Maia em Viseu, onde comemos um par de bifanas regadas a Cola.
Depois de arrefecer percebi que dali não conseguiria sair nas condições em que cheguei, o que nos levou a tactear pela cidade por uma farmácia de serviço onde uma caixinha de Voltaren Rapid ganhou lugar na bolsa do quadro – e um cantinho no meu coração.
A partir daí foi a continuação do suffer-fest até Viseu, um bocado a jogar ao “onde é que cola a descrição que nos fizeram de uma ou outra subida pior”:
“Será esta?”
“Não, o tipo disse que eram uns 700m”
“Ui, esta é que é!”
“Não, era depois de uma ponte”
E de ilusão em desilusão íamos carregando o altímetro, cujo acumulado não reflecte as vezes que descíamos – e bem! – e que me davam tanto gozo por levar um peso combinado de 110Kg e uma parvoeira natural na cabeça por traçar parábolas à Mick Doohan.
Após Castro D’Aire, as horas passaram rumo a Viseu, onde parámos numa bomba de gasolina para abastecer. Diga-se que foi neste posto de abastecimento que, num rasgo de rara iluminação, adquiri um pacote de Ruffles de Presunto, cujos efeitos recuperadores já conhecia da travessia da N4 (é só trocar Alandroal por Viseu). O João não estava muito convencido e torceu o nariz… primeiro estranha-se, depois não queremos outra coisa. Guardado o pacote já encetado, bem dobrado para conservar a frescura e aí vão eles.
Andámos um pouco aos papéis à procura do melhor rumo para sair de Viseu e caiu definitivamente a noite quando transitámos para uma estrada cuja entrada era secundaríssima, escura, com o frio a instalar-se, mas compensado pela sensação do “estamos quase lá”. Choveu.
Passámos por Tondela, onde as torres de iluminação assinalavam o estádio daquele clube que parece ter-se instalado na 1ª Liga. Nova estica até Sta. Comba Dão, que atravessámos e, cerca das 20h, estava feita a primeira etapa após 218 km, 3141D+, e quase 10h a fustigar as máquinas.
Stop nos Garmin e, após uma revienga e um pequeno troço de IP3, voltámos à esquerda para encontrar o alojamento nas Casas Vale Martinho. O dono, muito simpático, apresentou-nos ao cão e bem perguntou se gostávamos de caril mas, dada a tipologia da nossa viagem, com muita pena recusámos 🙂 Acabámos por ter um jantar calmo e nutritivo à lareira, mesmo a tempo de instalar a primeira estação de lavagem e estufa dos equipamentos.
A energia no final do dia não dava para muito mais que tratar da logística, um post simples e um telefonema. Mas o Dia 1 estava feito, fui ao banco de créditos buscar uma ficha para estar em condições de arrancar no dia seguinte e adormeci fundo.
Saída com cuidado para não acordar o cão e, meia dúzia de pedaladas depois, estávamos de volta à N2.
Os primeiros kilómetros são de entrada e saída no IP3, por vezes com recortes improváveis e miseravelmente assinalada. Não merece o estatuto. À atenção dos responsáveis da associação N2 nestes municípios: já que tem tanto corta e cola relativamente ao traçado original, comido pelo IP3, pelo menos que se inclua sinalização e marcações de qualidade.
Passámos pouco depois pela Livraria do Mondego e, logo depois de Penacova uma subida de curva bem fechada, extensão média e bem bonita por sinal pôs-nos a suar e entregou-nos a Vila Nova de Poiares.
Levávamos uns 40 km nas pernas quando começou a chover no preciso momento em que passámos em frente a um café. Aproveitámos para meter conversa com a senhora sobre o percurso que se seguia e reabastecer. Subida gradual seguida de descida até Góis, e aí sim tivemos a dose do dia.
Como a subida não era suficiente, o tempo fechou, nevoeiro cerrado, chuva gelada e saímos dali com uma molha valente e mais uns metros no saldo, que é como quem diz, “carregados em cartão” 🙂
Descida e entramos numa zona de paisagem ainda bem marcada pelos incêndios. A fome já era muita e com cerca de 80 km e um atraso considerável demos entrada no “clássico” Café da Picha, onde nos deixaram colocar as bicicletas nos arrumos para almoçarmos descansados um saboroso arroz de galinha.
Já de barriga cheia e retemperados, passámos pela Venda da Gaita (coincidência!) e rolámos até Pedrógão, onde fomos premiados com uma belíssima vista a partir da barragem.
Seguiu-se a descida para a Sertã, com a vingança do chinês: nesse dia fui eu a tirar fotos à porta da farmácia e o Romão lá dentro a adquirir estupefacientes… 😉
Subida forte até Vila de Rei, tendo passado a centenas de metros do centro geodésico mas que, dado o avançado da hora, decidimos visitar noutra ocasião. Claro que nos arrependemos.
Arrependimentos não entram à mesa e poucos kilómetros depois nova paragem para café e uma selecção de doces para animar.
A rolar em pleno em descida, a roçar os 70 km/h na companhia temporária de uns camaradas que estavam a treinar, ouvi um som tac tac tac e pouco depois senti uma cacetada no desviador que, para além de quase me atirar à valeta, havia de se revelar quase fatal. Tinha sido o desviador, cujo parafuso limitador se vinha lentamente afrouxando, que saiu demais e foi apanhado em cheio pelo braço da pedaleira. Na altura endireitei o que pude e segui com uma mudança à frente até ao fim do dia, mas o mal estava feito e a factura chegaria mais tarde. Lesson learned: antes de uma empreitada destas, verificar os parafusos todos e Loctite 242 onde necessário.
Ligeira subida para o Sardoal e sempre a descer até Abrantes. A noite caiu à chegada e, já à saída, esperámos uns minutos pela passagem do comboio.
Rolávamos já com cheiros a Alentejo, noite caída, e os kilómetros iam passando. Do nada, no meio da escuridão, surge uma subida daquelas que não lembram a ninguém ao entrar no Alentejo.
Mais kilómetros nas pernas já em modo “por hoje já chega”, com viragem em Pte. de Sôr, e alguma coisa tinha que ser feita. Encostámos à berma e lá saltou da bolsa do guiador o pacote das Ruffles de Presunto para mais uma injeção de sal e calorias pujantes. Mais refeitos, já depois da passagem pelo Aeródromo, lá avistámos o Parque de Campismo da Orbitur em Montargil.
Tínhamos acabado de fazer 222 km, 2762 D+ em cerca de 9h a dar ao pedal. Levantada a chave e montados arraiais no bungalow, voltámos para um jantar no edifício principal. A sobremesa, essa teve que ser Rennie, depois de uma derrota do Clube oficial da dupla com o Moreirense!
Para ajudar, a secagem de roupas foi feita por intermédio de uma nova estufa, muito menos eficaz que a da véspera. O que vale é que só faltava um dia. Um longo dia.
O dia começou a arrumar a tralha e fazer o que podia do desviador que, depois de alguns ajustes, percebi que ficou mesmo torto logo na base de apoio. A noite foi retemperadora o suficiente mas os pobres calções já estavam claramente a acusar o toque. Fosse como fosse era dia de chutar para golo e, depois de arrumar tudo, foi com ganas de fechar a empreitada que fizemos check-out.
Saída do camping com arranque a frio e mandei mensagem ao Daniel Farrica da D’Bike, que simpaticamente devolveu a chamada tentando o mais possível fazer um diagnóstico à distância e ajudar a desatar aquele nó. Um desvio para Évora ainda era fora de mão e na realidade não havia grande coisa a fazer senão tentar endireitar o apoio braze-on à mão. Fiz uma reza aos deuses da Spec e com a cara de lado ainda minorei a coisa. Num quadro de carbono decidi não arriscar tudo e segui agora com a possibilidade de meter a mudança à mão. Já não faltava tudo.
Chegou Mora, com o seu Fluviário, e mais umas pedaladas chegávamos às Brotas. À saída, com uma subida generosa, terá sido uma das 2 ou 3 vezes nestes dias em que subi aos esses para atenuar o desnível.
Passagem no kilómetro 500, no Ciborro, paragem para as fotos da praxe e Coca-colas num café brand a mais e com atitude no atendimento a menos. É o que há. Mas não era tudo…
… grande momento logo a seguir, ao passar na seta para a “Escola de Ski”, que ganhou 15-0 à que dizia “Zoo”, banalizando-a. Senhoras e Senhores, Ciborro em modo muita forte!
O clássico “é já ali” alentejano começou a ganhar lugar nas nossas bojardas e chegámos a Montemor, passagem frente ao hospital onde há um quarto de século passei para visitar o meu Avô Zé, operado ao joelho esquerdo. Mas era à séria: tinha 2 parafusos enormes bem atarrachados naquilo que só podia ser considerada uma operação a roçar o medieval. Para desanuviar o ambiente e convencer os netos que não lhe doía, lá nos pediu para pegarmos com jeitinho nos parafusos de cada lado do joelho para “dar uma volta na mota nova do Avô”… ficou-me.
Deixámos o Castelo para trás e entrámos numa zona com um par de subida mais rijas para a moídela que já levávamos nas pernas… mas o tempo começava a abrir.
Santiago do Escoural, depois a passagem por cima da linha de caminho de ferro que vai direta a Évora. Quando atravessámos as Alcáçovas o céu abriu definitivamente e fomos roda livre alguns minutos, numa ligeira descida muito rolante. Bliss – não sei nem quero saber agora da tradução em português, esta serve-me e encaixa perfeitamente. Na realidade não dá para exprimir. Tem que ser vivido. Talvez pelo cansaço acumulado, o bom tempo, o cheiro do Alentejo, o ar a passar pelo capacete e um sorriso nos lábios, foi este o momento em que a N2 mais me disse.
… as roupas secaram, entrámos numa fase parte-pernas, mas agora com gosto. Com muito gosto!
Chegada lindíssima ao Torrão, numa descida sinuosa até à ponte, sempre com a terra alentejana à vista. Após a subida e com 90 kms nas pernas, era hora de sopas e tentámos primeiro almoçar no Besugo. Não funcionou. Orientação para o cliente profundamente miserável: 1) “bicicleta não entra” 2) Só serviam refeições na sala interior, nem na exterior nem na esplanada. O quê? Levarmos nós a comida e não termos serviço de mesa? Nada. Postura resolutiva é coisa que não constava do menu. Precisamente o contrário do que encontrámos no Tordo. Estava “fechado” para um almoço, educadamente disseram não serviam mais refeições. Tudo mudou quando atirei que estávamos no 3º dia da N2… e o objetivo era terminar o dia em Faro. Imediatamente: “o que é que precisam?” e lá foi o nosso anfitrião à cozinha buscar 2 óptimos pregos para cada um, que levámos para o alpendre para junto das nossas montadas, à vista da corda da roupa.
“É já ali”, o caraças! Seguiram-se Ferreira, Ervidel, e depois de umas retas ventosas a perder de vista, veio uma secção em obras onde fui traído pelo à-vontade e até gozo que ganhei em andar a abrir nos pavés de Roubaix e, dei por mim, tinha o aro no chão. Aquele furo para dar cor à etapa: só pode ter havido muito azar, descuido na preparação e alguma azelhice, porque de 4 câmaras de ar, 1 bomba e 2 cartuchos de CO2, salvou-se uma câmara de ar e a bomba a muito custo… e umas orelhas de burro para a próxima verificar o material devidamente! Também faz parte.
Passado Aljustrel e depois de uma visita aos Mosqueteiros para abastecer, fomos nós alvo de uma visita inesperada que deu um boost no moral – a família e um cartaz “FORÇA” encheram o tanque e foram mais que um Voltaren.
Almodôvar – falta de disciplina enorme, mas depois de 3 tentativas para jantar já valia tudo e enchemos a barriga de bacalhau à Brás.
Lá arrancámos por bom alcatrão, a tentar aquecer com 230 km nas pernas, rumo ao início da subida da Serra. “Caldeirão in the Night… hun tss hun tss hun tss“, era a nossa piada que já vinha há muitas dezenas de kms a anunciar-se. Num autêntico cenário de Halloween, o melhor era mesmo o pormenor que o João reparou: a sombra não projetava a nossa imagem no chão, mas sim na parede de neblina que formava um ecrã branco 5 metros à nossa frente. Surreal. Mesmo os cães, uns longe, outros perto e mesmo em pessoa já não faziam mossa ao moral que se instalou nas hostes.
A subida ia sendo comida às colheradas, sempre de olho no altímetro que servia de guia. Não se via praticamente nada e acabava por ser melhor assim. Na primeira vez que vimos algumas luzes e uma vedação, o João anunciou as esperadas antenas mas… nada disso. E era essa a beleza de subir vendado: mais metro menos metro, já era francamente irrelevante saber quanto faltava. Faltava e pronto. Estava lá e era para subir, that’s that.
Finalmente atingimos as antenas e parámos 2 ou 3 minutos para comer e ajustar a roupa para a justa recompensa pelos watts que ficaram no Caldeirão. Podia haver um fim de etapa sem acabarmos com o pacote de Ruffles de Presunto que trouxemos de Viseu? Poder podia, mas não era a mesma coisa! 🙂
Descida bem gelada, molhados q.b. do esforço da subida, da cacimba e alguns choviscos, era altura de ganhar velocidade. Não tendo que pedalar por alguns segundos, lembro-me de fazer as curvas sentado nas posições mais “laterais” possível, à motard, de um lado e de outro… o recheio dos calções já tinha visto muito can-can! Estávamos em pleno miracle-mode, muita anestesia e olhos nos kilómetros a fazer contas para chegar antes da meia-noite, era parte do acordo implícito ao aceitarmos fazer em 3 dias.
Ao chegar ao Barranco do Velho, o Romão avisou-me a certa altura que ainda faltava uma subida rija. Lá meti o prato pequeno à mão mais uma vez, preparando-me para o amasso. Pois, não. Acabava já ali e valeu-lhe umas gargalhadas valentes. Velhaco.
Descida longa, já com escolta automóvel de um amigo do João, na pista molhada de S. Brás de Alportel, ao que se seguiram os últimos kilómetros no “crono” possível. Até que, já à entrada de Faro, caiu um semáforo que nos quebrou o ritmo… mas deu de volta em bom espírito, quando 2 companheiros com granadas de cevada na mão nos vierem incentivar e, ao saberem que estavamos a terminar a N2, fizeram uma festa “nível final da Champions”. Valeu!
Já dentro de Faro, alargámos para queimar os cartuchos finais e… CHEGÁMOS!!!!
282 km, 2968D+, 11:11h a dar ao pedal, travámos e desmontámos pela última vez no marco entre faixas da Avenida Calouste Gulbenkian em Faro.
Nestes 3 dias e ao longo dos 738 km passámos por:
Chaves, Vila Nova de Veiga, Vilela do Tâmega, Vilarinho das Paranheiras, Vidago, Oura, Sabroso de Aguiar, Pedras Salgadas, Vila Pouca de Aguiar, Vila Chã, Vilarinho de Samardã, Benagouro, Vila Real, Parada de Cunhos, Cumieira, Sever, Santa Marta de Penaguião, Peso da Régua, Sande, Lamego, Penude, Magueija, Bigorne, Mezio, Moura Morta, Castro Daire, Ribolhos, Carvalhal, Arcas, Póvoa de Calde, Lordosa, Campo, Abraveses, Viseu, Repeses, Vila Chã de Sá, Fail, São Miguel do Outeiro, Sabugosa, Canas de Santa Maria, Tondela, Santa Comba Dão…
… Almaça, Oliveira do Mondego, Penacova, Vila Nova de Poiares, Vila Nova do Ceira, Góis, Esporão, Amieiros, Chã de Alvares, Alvares, Amioso, Fundeiro, Picha, Venda da Gaita, Pedrógão Grande, Pedrógão Pequeno, Sertã, Junceira, Cumeada, Vila de Rei, Sardoal, Alferrarede, Abrantes, Bemposta, Ponte de Sor, Tramaga, Aeródromo de Ponte de Sôr, Montargil…
… Barragem de Montargil, Mora, Ciborro, Montemor-o-Novo, Santiago do Escoural, Alcáçovas, Torrão, Odivelas, Ferreira do Alentejo, Ervidel, Aljustrel, Castro Verde, Rosário, A-dos-Neves, Almodôvar, Dogueno, Ameixial, Barranco do Velho, São Brás de Alportel, Machados, Faro!
Aqui ficam os números finais oficiais:
Longa aventura!
Podia ter sido diferente? Podia! 4 dias com bom ritmo e mais paragens ou 5 dias mais relax, a fazer as capelinhas, preferencialmente com bom tempo.
Mas deu um gozo tremendo e para além da experiência velocipédica em si, foi um hino ao companheirismo.
Grande João, com pinta e desempenho de grande rolador, fez-me muitas vezes lembrar o George Hincapie!
Como escrevi num post: “Reboques Romão – de Chaves ao Caldeirão”. Obrigado João, valeu!
Venha a próxima!