Depois de 10 dias a pedalar, com muito calor, muito frio, desertos, montanha, ventos cruzados e tempestades de areia, poderíamos pensar que os últimos dias da RAAM, seriam planos, sempre a rolar até à meta. Mas é exatamente o contrário, a última parte do percurso tem no menu as Appalachian Mountains, com muito sobe e desce para os bravos riders e respetivas crews.
Deste dia em diante até à meta a pedalada ainda contava com mais de 10K de acumulado.
A crew e o rider madrugaram mais uma vez. No período da manhã a crew relata que apanharam um troço do percurso, com cerca de 3 milhas de piso em obras, que foi doloroso para o rider. As marcas de pedalar 10 dias com pouco descanso estavam lá e era escusado um piso para “pedalar (ainda com mais) emoção”, mas tal como nos restantes dias, o ciclista e a crew venceram adversidades, alinharam o foco, entregaram-se às condições, adaptaram e venceram pedalada a pedalada, rumo ao objetivo que estava cada vez mais perto.
Athens, uma cidade no estado do Ohio “muito gira e arranjadinha” (diz-nos a crew), foi o ponto de encontro do rider, follow car e support car. Paragem para almoço, umas chamadas para a família que os acompanhava pelo tracker e redes sociais e revisão do plano para o resto do dia. A partir deste dia fazer contas aos quilómetros e às horas seria uma constante.
Em Portugal também fazíamos contas e achámos todos que “ia dar”, mas o facto dos próximos quilómetros serem muito exigentes em altimetria, fazia com que nas contas fosse necessário considerar que a média do ciclista seria diferente e as horas para terminar não esticavam, seriam sempre as 288H após a hora exata da partida.
O ânimo aumentava, o objetivo estava cada vez mais próximo, mas todos tinham consciência que estes últimos dias seriam, como se costuma dizer na gíria ciclista, de “faca nos dentes”. As contas faziam-se e voltariam a fazer-se várias vezes nos próximos quilómetros do percurso.
As comunicações entre o follow car e o rider via Vertix continuavam muito intermitentes, variavam como o tempo, umas vezes com muito calor, outras com chuva. Neste dia o calor apertou ainda mais à tarde e planearam uma power nap para o rider descansar na hora mais quente…mas sem sucesso. Não encontraram um local com sombra adequada e mais silencioso. Tentativa falhada, voltaram à estrada, mas à 2ª foi de vez, houve power nap, recuperação muscular com o fisioterapeuta da crew, reforço de hidratação e tudo o que a crew podia fazer acontecer, aconteceu!
Com o cair da noite veio a chuva de novo e a sensação de exaustão que reclamou a paragem para o descanso das 4H. O hotel mais próximo estava ainda distante, foi preciso fazer novamente um shuttle, que foi na prática o último do percurso da RAAM.
A crew resumiu que este foi um dia duro, em que a desidratação e as mazelas acumuladas de 11 dias se tinham feito sentir de forma muito evidente. A ansiedade das próximas 24H também tinha o seu papel no estado de desgaste de todos, conscientes que seriam as horas mais exigentes, com pausas mais curtas e nas quais os riscos a correr teriam que ser muito bem calculados e geridos.
A meta não estava longe. Tinham “A montanha na mão”, tal como diz o título da canção que o Ruben Portinha criou para o João e a equipa. Todos sentíamos que estava perto o momento da conquista, da recompensa… como diz a canção,
“…Algo maior chama por nós
É uma chama que acende e revela que não vamos sós.”
Estamos convosco! 4.394 Km, após TS#45 West Union, West Virginia.