5 da madrugada, mega pequeno-almoço no hotel com ovos mexidos, bacon, waffle e café, para além da habitual aveia. Diga-se que é quase um luxo nesta fase da RAAM ter apanhado um “breakfast” tão composto, mas a verdade é que…eles merecem! A crew que saiu mais tarde do hotel ainda tentou fazer o número do “also take away”, mas os empregados do hotel estavam muito “zelosos” e não permitiram…
João, back to the bike e follow car segue no seu encalce. Umas horas a pedalar e a crew nota que o rider já faz uns desvios nas descidas, sinais de alerta a que estão sempre atentos. Privação de sono extrema, chuva, estrada molhada e descidas com obras, são ingredientes de risco que a crew toma em consideração para gerir o percurso com o rider.
Estavam pré-avisados destas condições, com o reforço de uma das equipas que fazia a RAAM (Team Brazilian), que no dia anterior fez um post alertando que existiam perigos reais, com troços em obras e piso muito escorregadio devido à chuva.
O próprio João reconheceu que não estava desperto o suficiente para fazer descidas longas em segurança. Pararam para um cheeseburger, mais um café e uma power nap dentro do carro.
Faltavam menos de 300 milhas (aproximadamente 480 km) para acabar a RAAM. Quando dito assim, parece que é já ali…mas é preciso fazê-las ao ritmo do pedalar do João Pombinho aka Iron Pigeon. É um grande ciclista (achamos nós!) e nesta fase achamos que é ainda maior, mais valente, prestes a chegar à meta de uma prova incrivelmente dura.
Muitos dos que apoiam o João e a crew à distância, gravaram mensagens de voz que foram enviadas para a crew. Mensagens criativas, de apoio, de força, para o motivarem a pedalar, para o manterem acordado e, principalmente, para o fazerem rir e saber que estávamos todos a torcer por ele, por eles!
A crew escolhia estes momentos pós pausa, para tocar esses áudios e muitos foram tocados, alguns percebidos por todos, outros que só o João e quem os enviou entenderiam, as mensagens e os contextos onde nasceram. Todas, sem exceção, contribuíram para por um sorriso nos lábios do rider e para o fazer sentir que todos acreditávamos que ele conseguia!
Atravessar os Estados Unidos de bicicleta terá proporcionado ao João um catálogo de numerosas paisagens e vistas que estarão com certeza gravadas na sua memória. Assim como a crew, que sempre que podia aproveitava e fotografava, mas a prioridade do follow car era sempre o apoio ao ciclista. Num dos momentos de pausa, num miradouro em Town Hill, já no estado de Maryland, aproveitaram a vista e tiraram umas fotos que transpiram “tranquilidade”. Nesta fase, explica a crew, a sensação partilhada por todos não era a dúvida se iriam acabar dentro do tempo, mas apenas a questão de como é que iriam terminar.
Era óbvio para todos que iriam chegar ao fim e isso retirou-lhes uma certa pressão, o que não é o mesmo que dizer que relaxaram e descuraram a necessidade de controlar as horas e os quilómetros. Estavam todos mais animados, ainda mais motivados e partilhavam momentos de alegria e entusiasmo com o João, que dançava em cima da bicicleta, ao som das músicas que tocavam bem alto no carro. Foi assim, ao som de AC/DC, Metallica, Queen, Ruben Portinha e muitos outros, que o João pedalou as últimas subidas com a sua crew.
Sendo esta a última noite, o acordado em equipa foi fazerem apenas as paragens para as power naps de 30 ou 40 minutos. E aproveitavam para fazer essas pausas antes das grandes descidas, para as quais o João precisaria de mais foco e atenção.
Um momento ocorrido nesta noite que não esquecerão tão depressa, foi um encontro quase imediato com um veado, que apareceu a correr na estrada e que obrigou o João a travar a fundo. Ainda se olharam nos olhos e foi cada um para seu lado (e ainda bem!). A família deste veado apareceu mais à frente, numa zona muito verdejante e diz a crew que foi um momento muito “natureza ao vivo”, que apreciaram sem filtros de ecrã, em harmonia com o habitat natural desta fauna.
A última TS que fizeram neste dia 24 foi a TS# 49, Hancock, com cerca de 4.600 Km, já se dormia em terras portuguesas, considerando que na hora local da crew eram 23H, menos 5 horas do que em Portugal Continental.
A noite virou, acordámos em Portugal já era 25 de junho, o último dia da RAAM. A crew viajou sempre com 2 relógios, o da hora local, que variava à medida que avançavam nos diferentes Estados, da costa Oeste para Este, e o relógio de prova que cronometrava as 288H de prova. O João Pombinho teria que cruzar a meta até às 16:06 em Washington, menos 1H de penalização, ou seja, 15:06 locais, 20:06 portuguesas.
O último relato recebido da crew aconteceu quando faltavam cerca de 5 milhas (8 Km) para chegarem ao final da prova. Já pouco conseguiam acrescentar em palavras e nós aqui deste lado também. Já preparávamos computadores e telemóveis e trocávamos informações sobre onde e como ver o direto da chegada do João Pombinho e a crew dos 7 magníficos à meta da RAAM com a bandeira Portuguesa.