No terceiro dia da RAAM o rider e a crew tinham na mira o 1º cutoff da prova, que consistia em chegar à TS #15 (Durango, Colorado) no limite de 81H após a hora de partida. A média de Km/H que o João estava a fazer apontava para conseguirem cumprir esse cutoff com margem, mas havia muita estrada para percorrer e tinham sempre que contar com imprevistos que pudessem suceder.
A crew estava especialmente atenta ao estado de saúde do João (alimentação, hidratação, sinais de cansaço, estado de humor) e às indicações que vão sendo dadas a partir da Race Headquarters (Race HQ): via Discord a organização da RAAM comunica com todas as equipas, quer para enviar informações relevantes (desvios de percurso, alertas sobre zonas com perigos na estrada, cumprimento de regras de trânsito, etc), quer para receber informações das equipas (2 elementos por equipa estão previamente identificados para comunicar diretamente com a Race HQ.
Um dos alertas que receberam foi precisamente sobre o percurso que estavam a iniciar neste dia, a travessia da Navajo Indian Reservation. Os carros devem seguir o mais próximo possível do rider, evitarem paragens e é proibido fotografar os locais que possam aparecer na estrada. A reserva tem uma polícia própria e em termos hierárquicos só o FBI está acima desta autoridade. Foi assim, com muita atenção que a crew acompanhou o João, desfrutando também das maravilhosas vistas que vão partilhando connosco nas redes sociais.
Chegados à TS #8 (Campo Verde, Arizona) foram informados de uma alteração ao percurso, devido a um incêndio que afetava a rota prevista até à TS seguinte. O trajeto alternativo foi feito em modo shuttle, ou seja, a crew foi informada que deveria levar o rider de carro até à TS #9 (Flagstaff, Arizona). A organização monitorizou a velocidade dos shuttles entre as duas time stations.
Após Flagstaff a F16 e o João voltaram à estrada juntos. Outros incêndios tinham ocorrido nos arredores e a crew conta que o ar que se respirava estava pesado, em tons laranja e a visibilidade não era a melhor.
Esta alteração de quase 98 milhas no percurso, resultou também numa alteração do limite de horas, ou seja, serão retiradas 9H ao total de horas válidas para fazer o percurso da RAAM. Lidaram com sucesso com o imprevisto, mas o João ficou preocupado sobre essa redução de horas e o cumprimento do cutoff em Durango.
Na TS #11 (Kayenta, Arizona) a Team Iron Pigeon fez uma pausa para descansarem a cabeça das contas que naturalmente estavam sempre a fazer. Mas ainda antes de arrancarem de novo para a estrada, confirmaram a comunicação da organização acerca da redução das 9H do percurso, que seriam retiradas apenas no final da prova e não no tempo para o cutoff. O João estava a pedalar a um bom ritmo, mas perante este esclarecimento, o SEP – Stress Enquanto Pedala – reduziu significativamente.
Entraram em Monument Valley e foram brindados pela mãe natureza e a magnifica vista das famosas formações rochosas deste vale. Dizem que é “o maior museu ao ar livre do mundo”.
A crew juntou-se toda e fizeram uma paragem para fotos. As fotos e vídeos que partilharam nas redes sociais valem mais que quaisquer palavras que possamos aqui colocar. Comemoraram este momento em que estavam juntos, a viver uma viagem e uma jornada épica e única. Juntos por um grande propósito, um objetivo ambicioso, o dos primeiros Portugueses a fazê-lo. Juntos por uma amizade que será marcada para sempre por estes dias.
Back to the road, o vento soprava pelas costas do rider (é o que se quer!). Já passava das 21H locais e ainda tinham mais um desafio pela frente: a travessia de Monument Valley foi brindada por uma tempestade de areia, com muito vento e polvilhada depois com chuva! As fotos das meias do João no topo deste resumo, não são do “bronze”, são a areia que ficou colada nas pernas do ciclista!
Os carros transitavam relativamente próximos, com comunicação entre eles via walkie-talkie, dado que passaram por muitas zonas sem rede móvel e sempre atentos ao João a pedalar na estrada, no meio da tempestade de areia. A crew naturalmente preocupada, fazia o melhor no acompanhamento para o proteger.
Por volta das 23H chegaram à TS seguinte e já estavam livres da tempestade, que afetou muitos outros riders da prova. Pela comunicação via Discord iam sabendo que muitos tinham ou estavam a passar pelas mesmas condições, reportando os ventos cruzados fortes. Esta corrida é para duros!
E o que achou o João de pedalar sob uma tempestade de areia? O membro da crew que nos relata os eventos diários, ri-se, faz uma pausa…e diz: “Ele adorou”. O João irá com certeza contar estas histórias na primeira pessoa, como ele tão bem sabe fazer.
E como ainda havia pernas para pedalar, continuaram mais umas milhas, com o objetivo de pararem por volta da meia-noite, para descanso dos guerreiros. Check-in na TS #12 (Mexican Hat, Utah) e descanso em Bluff, com 1300Km pedalados e direito a recuperação com botas de pressoterapia, que fazem maravilhas enquanto o ciclista vai adormecendo.
Dia cheio de peripécias, bonitas imagens e nós aqui deste lado a torcermos por eles!